sábado, 21 de julho de 2012

O tal de Romeu Informa: Mudei-me!

E então, meus queridos, caros e amados leitores. Não vou mentir para vocês, até porque não tem muita coisa para falar sobre isso: quis inovar, e inovei. O Desconstruindo Romeu mudou de endereço. O porquê? Na verdade, foi por ter enjoado daqui mesmo, sabe... É um lugar bacana e tudo mais para se ter um blog, mas eu realmente sou o tipo de pessoa que não para quieta e vive quicando de um lado para o outro. Quando planejava sobre o blog, pensava em que lugar ia hospedá-lo. Primeira opção foi o wordpress, mas tive realmente preguiça de criá-lo por lá; logo após veio o famoso tumblr, mas sempre achei ele modista demais. Então, o mais fácil e prático: blogspost, e cá fiquei eu por mais de um mês. Porém, mordi minha língua: agora estou no tumblr, e com algumas pequenas mudanças.
Nada na estrutura do Blog, nada na mudança de textos - o Desconstruindo Romeu vai seguir a mesma linha de raciocínio, de textos e críticas, apesar de que agora eu começarei a postar uns textos mais introspectivos e outros com pegada mais poética. O link do blog também agora atenderá pelo meu nome, o "tal de Romeu" (como eu gostava de me chamar aqui) - porém, não mais como antes. Breno Machado era meu nome aqui; agora será Breno Torres. "Machado" e "Torres" são ambos meus sobrenomes, por favor, não estou e nem estava usando o nome de outra pessoa. Mudei simplesmente por achar que soa melhor "Breno Torres". Acho que é mais bonito de falar (na verdade, antes escolhi "Breno Machado" por um nome ser menor que o outro, e... bom, bobagem).
Eu realmente espero que gostem do novo Desconstruindo Romeu! Estou muito animado com ele. 
E se isso servir de argumento para segurar vocês, meus leitores, lá vai: eu estou escrevendo um livro - (aviso, merchan vem por aí) serão postados no novo velho blog trechos dele, informações e muitas e muitas outras coisas (vocês foram avisados). 
Espero que vocês continuem comigo nesta. No novo blog, já há dois textos quentinhos, que acabaram de sair do forno, esperando por vocês!
Obrigado!

O link do novo Desconstruindo Romeu: breno-torres.tumblr.com

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tiradinhas Feministas de Boteco


Normalmente quando chego com essas piadas em meio familiar ou social não íntimo, sou sempre olhado meio de lado. É sempre o mesmo discurso: “não tem vergonha de surrar o próprio gênero?!”
Mas, ah, como é bom falar mal de homem... é porque a quantidade de piadinhas machistas que ouvi ao longo do tempo perderam totalmente a graça (a qual, por acaso, sempre foi bem pouquinha – isso quando chegava a ter): tornaram-se comuns, chatas. Repetitivas e enjoativas – além disso, a grande diferença está no peso: uma piada machista é pejorativa, denegridora de imagem, chegando muitas vezes a ser truculenta. Já piadas feministas são respostas. São – nem tantas vezes (e essas são as melhores) – sutis afrontas há muito entaladas; são bandeiras de auto valorização e, em grade maioria, inteligentes sacadas não conformistas. O que ressalta ainda mais o poderio feminino diante da sociedade.
Aquelas que falam sobre sexualidade são as melhores (ou você não sabe por que homem é igual vassoura...?). O que mais gosto nelas é o desafio: dar de peito contra o gênero que por quase toda a história da humanidade se saiu como dominador na arte do sexo. Fazer piada feminista sexual – desde que se saiba fazê-la, é claro – é ir de encontro ao tabu da imbatível virilidade masculina na cama. Para ser direto, dos machões procriadores infalíveis – até porque de muitas formas o homem é mais vulnerável a ser um fracasso na cama. Isto é comprovado cientificamente, o que é munição fácil para as  bazucas sagazes das (dos também, olha eu aqui) feministas.
As que falam das impotências hábeis dos homens também são bastante educativas, se olhadas de certo ângulo. É de novo a história da repetição: falar de uma “““““incapacidade””””” feminina é algo que virou cotidiano (meu pai repete toda vez que dirige o discurso arcaico da mulher motorista), mas estapear o homem com coisas que ele, sim, tem uma dificuldade cultural e biológica de aprendizado e aptidão é fazê-lo enxergar o outro lado da moeda. O lado de quem escuta, dia após dia, as repressões banais e infundadas do outro sexo.
Meu objetivo aqui não é fazer com que todo mundo ou todas as mulheres saiam berrando críticas ácidas feministas nas faces dos homens e lhes humilhem a cada erro. Veja bem, ninguém – ninguém – é obrigado a receber retaliações severas consecutivas (inclusive boa parte dos homens: aquela que se envergonha do modo que seus antepassados humilharam o sexo feminino). Mas que estas têm poderes corretivos contra homens machistas, ah, se têm. Já experimentei e vi isso acontecer, logo que acredito que um homem machista é aquele que nunca teve uma resposta na fuça quando fez algum ato que o denominasse como tal.
Tiradinhas feministas, portanto, minha (ou meu) querida (querido), são que nem remédios: usadas com paciência, sabedoria e doses adequadas e bem medidas surtem efeitos milagrosos contra o machismo. Além, é claro, de despertarem boas risadas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Fé, Deus e Bem


O assunto Deus para mim há algum tempo não era um discutível. Era uma verdade absoluta; fora de cogitação alguma dúvida, até mesmo por conta de minha própria criação: católica, de juntar as mãozinhas à noite todo dia e agradecer por cada um destes.
Veio o conhecimento, então – veio a Biologia, para ser mais sincero –, e comecei a, gradativamente, passar a franzir o cenho para certas afirmações. Vieram as opiniões alheias sobre religião e elas, urrando em meus ouvidos enquanto eu amadurecia, começaram a me fazer questionar cada vez mais em pensamento. Ganhei voz quando adquiri consciência crítica e, finalmente, cuspi o que estava engasgado: as não concordâncias sobre certas discrepâncias da Igreja.
Passei por uma fase, então, de instabilidade emocional terrível que, se colocado frente a frente a um especialista, sem dúvidas, seria diagnosticado com depressão – se não isso, algo muito próximo. Tudo por conta de um pequeno problema de saúde + término de relacionamento + hipocondria exagerada adquirida. Agarrei-me na crença religiosa, então (típico), e minha esperança deística foi renovada pela superação.
Em algum momento confuso desta fase, porém, eu me vi sob uma enxurrada de descrença e dúvidas. Por um tempo perverso, fui assombrado por medos que sempre se resumiam a uma só pergunta: “Será que eu estou mesmo sozinho?”, porque, para mim, sempre foi um pavor acreditar que não há nada ou ninguém me protegendo, que não há um Alguém olhando por mim, andando comigo, me mostrando caminhos. A pior parte de tudo sempre foi imaginar que a morte é o fim da linha. Fim da estrada. Que não há nada depois.
Parei de ouvir outros pensamentos, por fim, e me dei aval para um egoísmo transcendental. Sentei, pensei e pensei. Pensei sobre todos aqueles dogmas, preceitos e regras da Igreja e, sinceramente, decidi seguir um só princípio: o bem. Vi-me sem condições de levar um monte de normas nas costas e simplesmente sentei no meu banquinho para acreditar em três coisas: fé, Deus e bem. Fé move montanhas – fé é acreditar no invisível. Para ter fé, é preciso muita coragem; Deus é superior, Deus é grande, Deus é tudo. Bem, independente de religião, está sempre presente – do Budismo ao Islã: não há nada mais divino que o fazer e o querer bem. Se você faz o bem sem hipocrisias é porque ama as pessoas – e eu sou simplesmente perdidamente apaixonado por gente. Por pessoas.
Ainda tenho minhas crises metafísicas, mas elas não me abalam tanto com antes, a ponto de me fazerem duvidar de Deus. É como disse J.K. Rowling: “Sim. Não posso fingir que tenho dúvidas sobre muitas coisas, e essa é uma delas, mas eu acredito sim”. Eu tenho dúvidas sim – seria hipócrita se dissesse que não. Mas a verdade é que não sei viver sem acreditar nEle; não sei continuar se não acreditar que há alguém comigo, dentro de mim, à cada passo que dou. Não sei – não adianta. Quando tentei, quase caí nos braços da Depressão; quando pedi, tive provas. Continuo tendo e, mesmo se as não tivesse, eu amaria este Deus com todo meu eu incessantemente, pois necessito deste amor para dar um sentido à vida.
Porque é quando pensamos sermos super-heróis que vemos de quem é a verdadeira grandeza.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Coisa de Camões


Essa coisa de amar dói. E dói mesmo. Fico me perguntando se Camões ficou no mesmo estado que eu para poder definir aquilo tudo tão brilhantemente – alguns segundos de pensar e, então, percebo que não. Não. Ele talvez não estivesse distante do seu amor – e, quase com certeza, seu amor não era um homem; ele, eu acho, não havia planejado sua vida toda com esse alguém – o jardim com balanços, a cozinha grande, o quarto privado no sótão (talvez nem o termo “sótão” existisse) –, mas acho que havia, com certeza, fantasiado com ao menos parte disso. Ou com algo parecido com isso. Sem dúvidas não havia acabado de desligar o telefone para escrever o poema de amor mais profundo e tocante do mundo, mas acho que posso senti-lo debruçado em lágrimas tal qual fiquei logo após o ato; não sei se seu amor foi correspondido, não sei se houve contato físico, não sei se consumaram seus sentimentos no ápice glorioso da união do amoroso ao libidinoso, mas, se esta última aconteceu, sinto inveja. Muita inveja, assim como senti do antigo caso de meu amor quando soube que chegaram à além. Ela pôde, pelo poeta, ser tocada – ela pôde ser tomada nos braços de Camões e possuída, possuída de corpo e alma, naquele emaranhado confuso de suor, vozes e toques, enquanto eu... eu tenho de me contentar com vagos resquícios de devaneios há muito sonhados. Tenho de me contentar com a memória imaginária de estar sob seu corpo, com seu quadril entre minhas pernas e meus braços seguros em seus ombros, naquela dança frenética onde um sexo devora outro, sem cessar, e as línguas se enroscam entre os arquejos de satisfação, lascívia e imprudência – sim, imprudência, logo que mesmo que respeitemos um ao outro onde quer que estejamos, entre quatro paredes somos um do outro. Um do outro, sem medidas – um do outro sem restrições.
Tenho medo de tentar imaginar se Camões se permitiu mergulhar em seu amor e desaparecer nas profundezas do mesmo, pois me sinto receoso em fazê-lo – não sei quanto a Camões, mas já sofri demais por me entregar de corpo e alma para um sentimento. Entretanto, qual seria a finalidade, céus, de estar apaixonado?! Não é estar completamente entregue, física e sentimentalmente, para o outro?? Não é estar disposto a enfrentar o que quer que seja por ele? Não é descontentar-se contentemente?
E será que Camões pediu calma e ao mesmo tempo não pôde esperar? Será que Camões pediu silêncio e, ao mesmo tempo, gritou de amor? Será que, Deus, Camões pediu racionalidade e quase se tornou um maldito louco depravado? Será que Camões quis carinho, mas, ao mesmo tempo, implorou por prazer? Será que Camões não estava pronto e, ainda assim, entregou-se? E a maior pergunta de todas: depois de tudo isso, será que Camões, finalmente, foi feliz?
Só sei dizer que nada sei dizer. Mas sei que isto desatina brutalmente a doer... também sei, porém, que não quero que deixe de doer.
Só sei dizer que gosto que doa.
Só sei doer.
Só sei amar.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Feminismo: de Teoria à Filosofia de Vida

Nunca ninguém havia me avisado o quanto era difícil ser feminista, mas ninguém mesmo nunca havia me avisado e era difícil em dobro ser um homem feminista. Não que se eu houvesse recebido algum aviso eu não me tornaria um (não sou traíra não), mas, sem dúvidas, ser feminista é difícil.
Na verdade, pensando agora, tudo começou da forma com que costuma começar com muita gente: leituras de escritoras pós-modernas, o pequeno espanto ao se deparar com as três vertentes que o Feminismo prega contra:  machismo, racismo e homofobia – esta última a qual me fez ser um devoto fiel. Ou seja: o Feminismo não era só um movimento emancipacionista de gênero, mas sim contra qualquer tipo de subjulgamento, seja perante cor, etnia, sexo ou opções! Era bem melhor que a encomenda.
Apaixonei-me instantaneamente, é claro.
Depois – como sempre acontece comigo e com muitas pessoas, no cume do fogo de uma descoberta excitante – virei imediatamente militante. Saía estufando o peito e fazendo cara de mal como aqueles adolescentes esquisitos do longa A Onda, dizendo que era feminista com tanta seriedade que parecia era fazer parte de uma sociedade secreta. Infelizmente, deturpei alguns valores do movimento e acabei montando em cima destes para fazer pouco de outros que considerava errado (em minha defesa, posso dizer que eu era muito imaturo para ideais tão revolucionários: virei militante aos quatorze anos). Era do tipo chato de pessoa que em toda frase fazia uma citação de uma grande personalidade do movimento, mas eu era bem mais chato, porque enunciava incorporando a tal pessoa e depois batia cabelo e saía me achando e de nariz em pé (precisavam me ver fazendo a Margareth Thatcher, ou a Gretchen – aliás, me tornei o “Conga” num círculo íntimo estranho de alguns amigos durante um tempo. Eles falavam isso nas minhas costas!).
Até que alguém me deu um sopapo de consciência e eu abaixei a crista, o que me fez respirar melhor os ares do movimento feminista. Com calma, então, começara a estudar com mente aberta e crítica os preceitos e todas as vertentes do movimento: das mais radicais (como aquela meio absurda que defende o total celibato entre de homens) às mais sutis (tipo aquela outra que só quer ganhar um pouquinho mais de independência financeira). Meditei sobre como, onde e quando o Feminismo deveria ser aplicado na minha vida e nos meus argumentos e também comecei a olhar para trás, para a história da minha família e as constituem e constituíam, pois havia lido em algum lugar que “feminista que não olha pro próprio umbigo e família tende a ser hipócrita” (infelizmente, não descobri muita coisa boa, mas eu já havia ido preparado para enfrentar os escombros do porão do meu sobrenome). Antes eu consumia o Feminismo cru; passei a lavá-lo, cortá-lo, separá-lo das partes que não combinavam comigo, cozinhá-lo, temperá-lo muito bem para depois consumi-lo (de preferência com molho de tomate e queijo ralado, à gosto).
Transformei o Feminismo num hábito. Associei-o a minha vida: acostumei-me a ele. Feminismo virou uma tatuagem, algo que eu fizesse esforço algum para usar. Tornou-se algo como um idioma novo, o qual você é fluente. Passei a chama-lo de filosofia de vida, já que é isso que ele se tornou: uma ioga social, política e anti repressora.
É por isso que acho potencialmente problemático quando alguém se diz feminista só por ter lido algo sobre sufrágio, ou por ter assistido o filme “Dama de Ferro” umas duas vezes em DVD. Essas pessoas levantam uma bandeira sem saber a nação que está sendo ali representada. Todo o suor – e, infelizmente, sangue que foi derramado para construir o que hoje chamamos de Movimento Feminista: uma instituição (para mim é uma, no melhor sentido da palavra) sólida, revolucionária, que levou séculos e muita garganta rouca para ser reconhecida e respeitada.
Portanto, caro amigo que é aspirante a feminista, antes leia sobre o assunto, informe-se, saiba mais sobre os grandes exemplos históricos. Vá preparado para uma discussão sobre o assunto. Minha mãe me disse uma vez que o perdedor de uma briga ideológica é sempre o primeiro que hesita sem convicção, e isso é uma verdade. Até porque nunca um guerreiro (e é o que somos: militantes contra uma sociedade ainda repressora) vai sem espada e escudo guerrear.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sonho versus Vocação

Como estou tratando de um assunto delicado e – descobri com um susto – comum, que fique claro que o caso e as ideias são unicamente individuais.
Há algum tempo, uma grande amiga minha entrou num embate psicológico quando foi se decidir para qual curso prestaria vestibular. Sem me colocar em seu lugar, eu gritava em plenos pulmões que ela deveria prestar para o que ela realmente sonhava. Sem contestar. Por razões que não precisam ser enunciadas, minha amiga acabou escolhendo um curso que não era tanto assim sua cara e, por mercado de trabalho abrangente, ela passou e cursou. Não muito tempo depois, minha amiga revelou que não estava feliz no curso e eu disse com toda pompa: “não te avisei?!” – ainda, claro, sem me colocar em seu lugar. Nunca pensei, é claro, que eu estaria em seu mesmo lugar pouco tempo depois.
Encontrei-me, assustado, no ano seguinte, numa dúvida esquisita de qual curso prestar (esquisita porque são cursos praticamente iguais e poderiam me levar ao mesmo lugar, se eu quisesse). Tinha medo do que escolher, porém era um medo superficial, já que o meu sonho é apenas um: música. Cantar.
Mas o susto que tomei logo após foi de uma mulher um tanto feia que nem sempre anda ao nosso lado, já que não gostamos muito de olhá-la: a Realidade. Sempre me amarrei firmemente ao discurso clássico que a indústria publicitária adora pregar: “Viva seu sonho! Corra atrás sem se importar com as consequências, não desista! Você merece!”, o que me vendou para o que realmente a vida nos faz escolher num dado momento. A venda normalmente sai quando temos que respirar e nos perguntar num suspiro, suando frio: “Droga, o que diabos eu faço?”.
Eu sempre fui muito bom em escrever. Sempre gostei de Linguagens e Línguas, minhas melhores notas sempre foram nas matérias relacionadas a essa área. Eu sempre fui o chato que fazia textos extrapolando as linhas exigidas, o que ficava retinho nas aulas, o queridinho da titia de Português. Até pouco tempo meu sonho era ser jornalista – até eu descobrir a música.
É tudo culpa de minha amiga Indira (se estiver lendo isso, cacetada, foi você mesma!) que me apresentou o canto de uma forma tão shakespeariana que me dediquei mês após mês, anos após ano, em melhorar dicção, extensão vocal, impostação: tudo sozinho. A música invadiu a minha vida como um tsunami e me embriagou com o seu universo de prazer, amor e até a parte ostentativa da coisa. Eu amo cantar. É como Indira mesmo disse uma vez, num momento inocente de nossas conversas assanhadas: “eu só sei ser feliz cantando”.
E eu finalmente entendi minha amiga Larissa. Essa guerra ideológica nos desgasta profundamente, logo que há dois valores em jogo: fazer o que você sabe fazer e que sabe que se fizer vencerá, e fazer o que você ama mais que tudo fazer, mas o caminho até a vitória é incerto e de pedras. Para sanar a provável curiosidade do meu caro leitor, eu ainda não me decidi; na verdade, estou escrevendo este texto justamente pela interrogação que está nos meus pensamentos. Vou decidir entre ser racional e louco; escrever entre o certo e o incerto.
Se bem que eu sempre pendi pros desafios...
Sei lá. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Égua Meu

A dinamização óbvia na novela das seis sobre o Pará e a cultura paraense anda tornando, em parte, a coisa um tanto banalizada – até mesmo exagerada, em certos pontos, valendo-me do educado eufemismo. O exagero no uso de palavreados paraenses, por exemplo, chega a enjoar – e em nosso estado (sou paraense), algumas vezes até faz rir. Nunca um paraense esteve tão “aruá”; nunca um “égua” soou tão hilário.
Conversei com um gaúcho há pouco tempo sobre o assunto e ele me revelou que para ele era também cômico – valendo-se do santo eufemismo também, provavelmente – ver um “não nativo” forçando palavreados regionais que estamos acostumados a crescer ouvindo com uma fluidez simples. Direta, sem travamentos na pronúncia; ambos concordamos com a estranheza auditiva quando nos deparamos com situações do tipo. Das mais complexas variações às mais simples formas de falar: quando a fala é nossa, a gente deita e rola nela da forma que só a gente sabe fazer.
Grande e maior exemplo de uma típica gíria paraense e, sem dúvidas, a mais ouvida no dia-a-dia (não é o “jururu” que tanto repetem na novela – perdão pela decepção): “égua”. Aqui, “égua” é sentimento. “Égua” é lírico. “Égua” é poesia – “égua” devia estar no dicionário de tanto ser verbalizado por milhões de pessoas dezenas, centenas, milhares de vezes por dia. O maravilhoso “égua”, com suas mil e uma utilidades para o vocabulário, nunca nos deixa na mão. Na saúde, na doença, na tristeza, no espanto, na decepção, na felicidade, no choro ou no riso: o “égua” lá está, dissílabo e bem intencionado (ambíguo nos ouvidos mal treinados), para nos ajudar nos fraseares da vida e na formação da identidade regional.
É por isso que é válido quando é dito que não há como imitar um dizer ou agir regional. Pode ser o ator que for, com o talento que for: é regional. Neste caso, é paraense. Sendo “égua”, sendo “jururu” ou “aruá”: é de Belém do Grão-Pará, terra do açaí e do tacacá. É todinho meu. É marca minha, tatuagem minha. E o que é meu ninguém consegue fazer igual.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ex Mai Love

Ex mai love, ex mai love! Se botar teu amor na vitrine ele nem vai valer um e noventa e nove!
Ontem, dia dezesseis de abril de dois mil e doze, uma curiosa novela na rede Globo começou a ser exibida: “Cheias de Charme” é um prato cheio para qualquer feminista que queira explanar sobre o assunto. Eu, por exemplo, sentei-me com prazer para assistir aquela novela que com certeza geraria muito assunto para escrever uma boa crônica ou dissertação – e foi isso que comecei a fazer: com papel e caneta na mão, iniciei uma longa reflexão sobre os porquês e porquês da telenovela de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. Entretanto, um flash do jornal local me despertou o que realmente daquela novela, em meu contexto, valia uma crônica: a abertura da novela. E aí eu pego você se é sobre a animação e os efeitos.
Ex mai Love, ex mai Love! Se botar teu amor na vitrine ele nem vai valer um e noventa e nove!”
A poderosa voz que todos ouvem quando a novela se inicia é de Gaby Amarantos, minha conterrânea. Por um simples motivo sinto um quase orgulho orgásmico por isso: Jesus, é uma paraense na abertura da novela das sete! (exclamação que ouvi bastante por aqui, por sinal). Há muito tempo, nós paraenses estamos acostumados com uma grande leva de preconceito em relação a nossa região. Um não, vários: socioeconômico, político e até étnico. E vindos de pessoas do Centro-Sul (sei que a maioria de vocês que lêem este Blog são desta região, por isso quero que tenham a mente aberta para ler isto. É um desabafo de um paraense que sofre por ser paraense das mãos muitas vezes não necessariamente de você que está lendo, mas, com certeza, de pessoas de sua região).
Veja, não estou generalizando que todos os Centro-Sulistas são assim, mas que ainda existe uma grande leva de pessoas que fazem as piadinhas clássicas para pessoas do Norte, existem. Querem um pódio delas?
3º) “É verdade que vocês aí do Norte andam tudo de barquinho em rio porque não tem avenida?”
2º) “Cara, eu ouvi falar que o povo do Norte é tudo índio. É sério isso mesmo?”
1º) “É verdade que no Pará tem jacaré andando no meio da rua?”
Não exatamente a pergunta neste formato. E eu ouvi as três indagações bem na minha frente (duas para mim).
A supervalorização da região do Centro-Sul, por muito tempo, acabou gerando uma coerção em cima das pessoas do Norte e até mesmo de algumas nordestinas. Isto começou a mudar há algum tempo quando começaram a olhar para a região Amazônica com outros olhos: os olhos da Sustentabilidade. Por isso, podemos dizer que a Sustentabilidade foi meio que uma isca para os estados onde a floresta cobre alguma área: ela fisgou a região Amazônica de volta aos olhos do Brasil e do mundo, já que a estas foram as últimas vezes que foi tão historia e geograficamente importante: nos dois Ciclos da Borracha.
Ou seja: dá pra imaginar a alegria do povo paraense quando Gaby Amarantos cantava poderosa: Ex mai Love, ex mai Love! Se botar teu amor na vitrine ele nem vai valer um e noventa e nove!”? E não só da massa, mas de parte do povo intelectual também – e, é claro, a própria Gaby Amarantos. Para quem já teve a oportunidade de ver uma entrevista daquela mulher, ela sim é uma paraense convicta, que bate no peito com orgulho de dizer que veio do Jurunas e também, é claro, muito talentosa – além de inteligente e bem articulada. A mulher que foi considerada a nova rainha do carnaval de 2012 pelo jornal inglês Guardian – e me desculpem músicos e cantores de renomes, mas este ano é de Gaby Amarantos – merece estar onde estar, logo que (sendo patriota agora) veio de uma história de grande sucesso, é uma pessoa de muito talento, é uma pessoa de preceitos e convicta, que não se esqueceu de onde veio e que, é claro, sabe representar o Pará como se deve.
Ironia ou não, este texto está sendo terminado enquanto a abertura da telenovela Cheias de Charme reverbera na sala de minha casa. E, ironicamente ou não, minha mãe disse: “Que bom que a Gaby tá fazendo trabalho bom em nome do Pará. A gente merece isso”.
A gente merece isso.
Ô, se merece.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Confissões de um Feriado Santo


Com licença para um texto pessoal sobre meu feriado santo, okay? Pode pular esse, se quiser.
Em geral, “viagem” está no vocabulário das pessoas como o hobbie ou diversão perfeita: “a forma maravilhosa e única de descanso e abertura de novos horizontes, além da importância para o ego por proporcionar a oportunidade de conhecer novas pessoas e, é claro, entender culturas, costumes e novas visões de mundo” – definição enfática e poética de uma das pessoas mais verdadeiramente líricas e expressivas que conheço (minha louca tia).
Bem, em geral, para mim é uma tortura.
Não que eu seja um anti-social irremediável, veja bem: gosto de viajar, mas para lugares em que eu escolha ir e também escolha quando desejo ir. Lugares os quais sou obrigado a ir, seja onde ou pela circunstância que for, sinto-me estranhamente oprimido para fazer algo produtivo por necessidade – na verdade, eu sou daquele tipo chato de pessoa quando algo traz a etiqueta “obrigatório” já olha de canto. Pessoas assim tendem a ser rebeldes com a maioria das coisas. Hereditário, talvez, no meu caso.
E foi o que ocorreu neste feriado santo: malas e cuias para a casa de minha avó, no interior do estado, lugar o qual sou obrigado a ir no mínimo duas vezes por ano há mais de uma década. Até os dez anos eu adorava ir – toda criança de cidade (ou a maioria) adora se soltar nos interiores para brincar. Mas foi mais ou menos a partir dos onze que o vírus da cidade grande me infectou e, no meu caso, talvez seja irreversível. Sou um urbanóide completo, do tipo que não vive sem tecnologia, facilidade, imediatismos (culpa do Google) e vícios citadinos.
Ou seja: sou o monstrinho da família.
E são por esses vícios que viagens interioranas se tornam extremamente cansativas para mim. Vamos ser mais diretos? Tediosas. E como um perfeito bicho da Cidade, em todas as viagens a minha é a maior mochila. Mas aí você se engana se pensa que é cheia de roupas.
— Pra quê você precisa de um guia de Mitologia na casa da sua avó?! — Pergunta mamãe com sua comum indignação pré-viagem, olhando a pilha de roupas arrumadas sobre minha cama.
Na pilha: guia Zahar de Mitologia, “Comprometida, de Elizabeth Gilbert; última edição da revista Galileu, guia de bolso da nova reforma ortográfica, dicionário Oxford de língua inglesa, livro de fábulas de La Fontaine, bloco de fichário, caderno de anotações avulsas, agenda, lapiseira (sou contra canetas), borracha, grampeados e a pergunta que nunca cala: é o bastante??
Um detalhe: são dois dias de viagem.
Mas é o que acontece: é difícil um ser acostumado no meio urbano se tornar do campo facilmente – salvo em caso de saúde, emprego ou necessidade. Mamãe foi pelo terceiro motivo: ao conhecer o cavaleiro no alazão branco, robusto e charmoso – papai (que hoje está mais pr’um urso cansado e perdido) – mudou-se para viver com ele. Além de complicações familiares, foi uma difícil adaptação. Coisa comum pra muita gente.

Parei de escrever este texto por não saber mais o que colocar e por perceber que estava ficando chato e monótono (estava chato e monótono...?). Peguei para terminá-lo no fim da viagem.
Conclusão: não usei nem metade das coisas que levei.
Outra conclusão, agora tipo de fábula? Não encha a mochila quando for viajar: você vai cair na gandaia de uma forma ou de outra.
Fim do texto pessoal – desculpem-me por isso, pelo incômodo, piadinhas e muito obrigado.
P.S.: É sério o negócio da conclusão. Pois é, pois é, pois é...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Dique

É estranho demais encontrar você, depois de tanto tempo, caminhando na rua. Seu rosto afilado e perfeito, seu corpo robusto e atraente, sua forma de caminhar, seu suave sotaque... Porém, não é nada disso que me faz perceber que eu passei os últimos meses apenas me enganando. O modo como você sorriu pra mim, sua fileira cintilante de dentes aparecendo junto ao leve fechar de olhos característico; a forma como sua face se inundou de triunfo ao expressar uma (talvez teatral) felicidade ao me ver, assim como o que quase me fez abraçar os carros: o singelo piscar de um olho, sua corrente de charme atingindo a mim como se uma grande pressão aquática em um mísero dique.
Garoto... Você não sabe o que causou em mim. Você não sabe os sentimentos que voltaram a despertar; você não sabe que o frio na barriga maldito e intenso que senti fervilhou os adormecidos. Tudo o que senti por você, tudo o que passei por lhe amar... Tudo, absolutamente tudo, espancou-me sem dó alguma.
No entanto, garoto, eu já sei o que esperar. Já sei o que irei ouvir, já sei o que irá dizer. Já sei como se importará, assim como sei da sua opção. Não adianta nutrir nenhum tipo de sentimento bobo e utópico, pois eu e você vivemos em mundos extremamente diferentes. Oito e oitenta, já ouviu isso? E é quase como se o que existe entre os dois nunca se encontrarem.
É essa minha esperança de sustentação: nenhuma.
Mas é que, de uma forma ou de outra, eu cresci. O soco na barriga que você me deu me deixou mais forte, e eu aprendi a olhar tudo de frente e sempre tirar conclusões lógicas e aceitáveis; eu já fazia isso, pode acreditar. Mas muitas vezes é sobre a gramínea das desilusões que montamos nossos campos psicológicos de batalha. Nossa muralha de força. Garoto, o seu sorriso talvez não vá mais me tirar tanto do chão – assim como seu andar, seu corpo, sua voz. Porém, você está tatuado em mim; e então vem Elizabeth Gilbert para me tirar do fundo do poço: “quando se lembrar mande amor, muito amor e luz – e depois esqueça”.
É isso que eu vou fazer. Mandarei amor, muito amor e luz... E depois esquecerei.
Obrigada, Feminismo!

— de Alice Torres.